Bajaus são primeiros humanos geneticamente adaptados para mergulhar

30, setembro 2024.

Conhecidos como “nômades do mar”, os bajaus vivem no mar há séculos e são mergulhadores mais fortes possivelmente graças à seleção natural.

Se você segurar a respiração e mergulhar o rosto em uma banheira de água, seu corpo acionará automaticamente o que é chamado de resposta de mergulho. Sua frequência cardíaca diminui, seus vasos sanguíneos se comprimem e seu baço se contrai – reações que ajudam a economizar energia quando se tem pouco oxigênio.

A maioria das pessoas consegue prender a respiração debaixo de água por alguns segundos, algumas por alguns minutos. Mas os bajau levam o mergulho livre ao extremo, permanecendo submersos por até 13 minutos a profundidades de cerca de 60 metros. Esses nômades vivem nas águas que cercam as Filipinas, a Malásia e a Indonésia, onde mergulham para pescar ou apanhar elementos naturais usados no artesanato.

Agora, um estudo publicado no periódico Cell (em inglês) revela os primeiros indícios de que uma mutação de DNA que aumentou o baço fornece aos bajaus uma vantagem genética para viver nas profundezas.

Dependência do baço
O baço não consta entre os órgãos mais glamorosos do corpo humano. Você pode tecnicamente viver sem ele, mas enquanto o tem, o órgão ajuda a sustentar o sistema imunológico e a reciclar glóbulos vermelhos.

Trabalhos anteriores mostraram que em focas, mamíferos marinhos que passam grande parte da vida debaixo d’água, os baços são desproporcionalmente grandes. A autora do estudo, Melissa Llardo, do Centro de Geogenética da Universidade de Copenhague, queria ver se a mesma característica era verdadeira para humanos mergulhadores. Durante uma viagem à Tailândia, ela ouviu falar dos “nômades do mar” e ficou impressionada com suas habilidades lendárias.

“Eu queria primeiro conhecer a comunidade, e não apenas aparecer com equipamento científico e sair”, diz ela sobre suas viagens iniciais para a Indonésia. “Na segunda visita, trouxe uma máquina de ultrassom portátil e kits de coleta de cuspe. Fomos a casas diferentes e fizemos imagens dos baços deles.

“Eu tinha um público”, acrescenta ela. “Eles ficaram surpresos que eu tinha ouvido falar deles.”

Ela também coletou dados de um outro grupo de pessoas, os saluan, que mora no continente indonésio. Comparando as duas amostras em Copenhague, a equipe descobriu que o tamanho médio do baço de uma pessoa bajau era 50% maior que o mesmo órgão de um indivíduo saluan.

“Se há algo acontecendo no nível genético, deveria ser perceptível no tamanho do baço. E lá observamos essa diferença extremamente significativa”, diz ela.

Os pesquisadores também se depararam com um gene chamado PDE10A, que supostamente controla um hormônio da tireoide, nos Bajau, mas não nos Saluan. Em camundongos, o hormônio é associado ao tamanho do baço, e os ratos que são manipulados para ter quantidades menores do hormônio têm baços menores.

Llardo teoriza que com o tempo, a seleção natural teria ajudado os Bajau, que viveram na região por mil anos, a desenvolver a vantagem genética.

Fonte: https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2018/04/bajaus-primeiros-humanos-genetica-dna-mergulho-pesca
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