Como a IA (inteligência artificial) está ajudando os cientistas a proteger as aves

17, julho 2024.

A cada primavera, os cientistas escondem mais de 1.600 gravadores do tamanho de uma lancheira nas florestas exuberantes da Serra Nevada, no oeste dos Estados Unidos.

Até que sejam recuperados no final do verão, esses dispositivos gravam um milhão de horas de áudio, que geralmente contém os pios, latidos e assobios da coruja-pintada-da-califórnia – informações valiosas sobre onde a espécie de ave ameaçada de extinção passa seu tempo. Mas são muitas gravações para serem analisadas por um ser humano.

“Não há como ouvir isso – nem de perto, certo?”, diz Connor Wood, pesquisador associado que co-lidera o projeto da coruja no K. Lisa Yang Center for Conservation Bioacoustics, parte do Cornell Lab of Ornithology em Ithaca, Nova York, nos Estados Unidos.

Acontece que essa equipe realmente pode processar esse dilúvio de dados – eles só precisam de uma pequena ajuda do BirdNET, um sistema alimentado por IA (inteligência artificial)lançado em 2018 que pode identificar mais de 6 mil espécies de aves em todo o mundo apenas por seus chamados.

“Precisamos de ferramentas que sejam realmente flexíveis e capazes de identificar o maior número possível de animais acusticamente ativos”, explica Wood, cujo laboratório desenvolveu o BirdNET com a Universidade de Tecnologia de Chemnitz, na Alemanha. “Eu realmente não consigo exagerar o quanto a [BirdNET] é transformadora para o campo da bioacústica.”

Na última década, surgiram vários aplicativos que utilizam o poder da inteligência artificial para identificar diferentes sons de aves, que são usados tanto por cientistas quanto por observadores de aves.

Essas ferramentas têm suas falhas: às vezes, elas podem identificar espécies de forma errônea, por exemplo. Porém, mais pesquisas estão mostrando que a IA pode identificar o comportamento e a distribuição das aves, o que é fundamental para a conservação.

Como o uso da inteligência artificial funciona para ajudar as aves?

Em 2016, Cornell procurou Stefan Kahl, um cientista da computação da Universidade de Tecnologia de Chemnitz, para ajudar a criar um algoritmo que processasse os sons de pássaros gravados na natureza.

Dois anos depois, a equipe lançou o aplicativo oficial BirdNET, que permite que pessoas de todo o mundo façam upload de suas próprias gravações a partir de uma variedade de dispositivos, incluindo laptops e smartphones. Desde então, a BirdNET acumulou cerca de 150 milhões de sons de pássaros de alta qualidade.

Somando-se a esse conjunto de dados, o Merlin, outro aplicativo de acústica de aves da Cornell, alimentado por IA, tem mais de três milhões de usuários ativos que alimentam o sistema com dados acústicos. Mas como essas ferramentas aparentemente mágicas funcionam?

O aplicativo converte o canto de um pássaro em uma imagem de ondas sonoras conhecida como espectrograma. Em seguida, a imagem é inserida no algoritmo do aplicativo, que pode identificar as alterações de frequência, o tempo e a amplitude exclusivos de um canto específico.

“Esses padrões que os algoritmos encontram são muito mais sutis e refinados do que qualquer ser humano poderia fazer”, explica Kahl, que também trabalha como pesquisador de pós-doutorado no centro de bioacústica de conservação do Cornell Lab.

Com financiamento do Serviço Florestal dos Estados Unidos e do Serviço Nacional de Parques, Wood e sua equipe usaram recentemente o BirdNET para criar a primeira avaliação de todo o ecossistema das populações de corujas-pintadas em Sierra Nevada, que enfrentam cada vez mais ameaças de espécies invasoras ou incêndios florestais. Essas informações mostram as tendências da população de corujas que podem impulsionar os esforços de restauração e conservação, diz ele.

“As agências não estão apenas adotando isso como uma ferramenta de monitoramento para informá-las sobre as populações, mas também para facilitar especificamente a ação no local, o que é muito empolgante”, diz Wood.

Fonte: https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2024/05/como-a-ia-inteligencia-artificial-esta-ajudando-os-cientistas-a-proteger-as-aves
imagem sem direitos autorais – Canva