“Mesmo sabendo que um dia a vida acaba, nós nunca estamos preparados para perder alguém”, Nicolas Sparks, escritor, roteirista e produtor estadunidense.
Embora saibamos que aquele ente querido encontrava-se acometido por uma doença de difícil cura e apesar de assistirmos o sofrimento daquela pessoa que amamos, ante a luta e esforço em vão frente ao complexo grau do acometimento, fato é que quando esse momento chega, momento em que o pai perde um filho, sem sombra de dúvidas estaremos sempre diante de uma situação que podemos nomear de uma perda de controle absoluto.
Na noite de 27 de junho de 2025, sexta-feira, nos deparamos com o passamento de Marcelo Viana Salomão que, aos seus 57 anos de vida, tido em seu convívio como “um líder com escuta generosa, um colega sempre disponível, um pai, marido, irmão e filho que carregava o amor como base de tudo”, nos deixa fisicamente para fazer parte de um outro contexto de vida.
Apesar dessa “promoção”, vista por alguns como a destempo, Marcelo, portador dos predicados enumerados por aqueles que tiveram a grata oportunidade de com ele conviver por quase seis décadas, qualidades essas já discorridas anteriormente, esse jovem sorridente, educado e prestativo, deixa aqueles que ainda permanecerão deste lado, um legado típico de um Lorde. Afinal, estávamos e estaremos para sempre, diante de um “Homem Gentil”!
No entanto, não tenho e nem posso me isentar de transmitir aqueles que estiveram impossibilitados de se despedir do Marcelo e de levar uma palavra capaz de confortar o coração dos familiares e amigos, que aqui deverão permanecer à espera do devido chamamento, o que meus olhos viram e o quanto meu coração conseguiu registrar no pouco espaço de tempo que permaneci no Velório de Marcelo Viana Salomão.
Em fila e passos lentos, com pelo menos uma hora de duração, foi a forma que as pessoas encontraram para se organizar até chegarem próximos ao Dr. Brasil Salomão, pai de Marcelo e, em ato contínuo ladear-se ao corpo físico de Marcelo Viana ainda presente.
Enquanto pés se arrastavam na fila improvisada; enquanto pessoas trocavam cumprimentos e conversas em tom baixo e respeitoso; aliás, assim o recinto exigia, a cada passo que eu dava, a imagem do dr. Brasil ficava ainda mais fixada em minha mente. Gestos, cumprimentos curtos e longos na tentativa de confortar esse grande homem, hoje fragilizado, mas que no cotidiano serve de paradigma à todos que o circundam, deu mais um exemplo a ser seguido, aguentou com resiliência o doloroso e sem sombra de dúvidas o mais difícil mister que a vida lhe reservou, e agora de forma abrupta lhe fora entregue.
Ainda na grande fila, minha vez parecia não chegar. Confesso, fiquei ansioso a ponto de me perder entre meus pensamentos. Pensamento ou imaginação? O que fazer e falar quando chegar a minha vez? Darei um aperto de mão, um abraço, beijarei suas mãos ainda cobertas por sangue pisado por entre a pele em face de sua recente passagem pelo hospital ou deveria administrar um beijo em qualquer parte do seu rosto? Na verdade , quando chegasse o meu momento, eu queria de alguma forma deixar registrado o meu irrestrito carinho, apoio e admiração que sempre tive por aquele Grande Homem.
Enfim chegou a minha vez, ao me aproximar daquele forte e fragilizado Homem, acomodado em uma cadeira de rodas, sabe-se lá por quantas horas e que por mais de cinquenta anos foi admirado por mim, ele abre os braços como um pai o faz para um filho que da os primeiros passos em sua direção e naquele instante por certo ele estava a pedir socorro dúvida não tive, fiz de tudo; beijei aquelas mãos, nos abraçamos longamente, ouvi dele o que gostaria de ter ouvido, “como é bom neste momento ver e poder contar com um amigo”, respondi, “Sim, pode contar com esse amigo, se cuida. Descanse um pouco. Força!”, aplicando-lhe antes de me retirar um beijo na cabeça, em sinal de respeito.
Após me posicionar ao lado do Marcelo, outro Grande “Jovem” Homem; que teve toda a oportunidade do Mundo para ser uma pessoa igual há que nos deparamos no nosso dia a dia, mas que optou por ser diferente, simples, amável e belo, conclui uma breve oração me despedindo com a certeza de que ele efetivamente cumpriu sua Missão.
Não poderia encerrar esta mensagem sem fazer alusão a outra visão. Ainda no interior do prédio que recepcionou o Velório de Marcelo Viana Salomão, aqueles meninos, hoje homens, advogados bem sucedidos, com famílias já formadas, que vi crescer nas dependências do escritório Brasil Salomão e Matthes, alguns na qualidade de amigos de infância de Marcelo não tiravam os olhos do grande homem Dr. Brasil do Pinhal Pereira Salomão, estavam preocupados, atentos e prontos para intercederem se necessário fosse. Se as circunstâncias não fossem tão dissociáveis, essa visão seria digna de um best seller, tamanha grandeza e mistura de sentimentos carinhosos que pude ver jorrar naquele recinto e em tão breve momento.
No sábado, 28 de junho, ao passar em frente ao prédio do escritório de advocacia que abriga a sede desses Grandes Homens, observei que a Bandeira do Brasil não tremulava, estava escorrida e praticamente colada a seu imponente mastro. Ela também sentia a falta de alguém e de algo. Eu entendi que ela também estava triste!
Carlos Alberto Marcos
Alemão da Assojuris